Discurso do Senhor Ministro na Conferência
Plenipotenciária da UIT
H.E. Mr. Juarez Quadros Do Nascimento
É com muita honra que participo de mais uma Conferência Plenipotenciária
da UIT chefiando a delegação brasileira na presença de distintos e numerosos
participantes que aqui representam milhões de pessoas. Ao longo das próximas
semanas, líderes do setor de telecomunicações de todos os continentes
estarão nesta conferência avançando em importantes temas deste que é um dos
setores mais dinâmicos da economia contemporânea.
2. Aproveito esta oportunidade para cumprimentar o governo do Marrocos por
sediar esta conferência plenipotenciária e para ressaltar o importante e
dedicado trabalho do Senhor Yoshio Utsumi, Secretário-Geral da UIT, do Senhor
Roberto Blois, Vice-Secretário Geral, bem como dos diretores dos Bureaus de
Radiocomunicação, Telecomunicações e Desenvolvimento.
3. Os últimos dez anos foram especiais para as telecomunicações ao
considerarmos: a disponibilidade da banda larga, que antecipou uma inovação
das redes; a expansão da Internet, facilidade desconhecida para muitos antes
deste período; a explosão da telefonia móvel, que passou a ser uma constante
na rotina das pessoas; e o marco regulatório com a liberação do setor, que
impulsionou o aparecimento de múltiplos agentes e o crescimento do mercado.
4. Quando da última Plenipotenciária, realizada em Minneapolis, em 1998, o
Brasil ultimava o processo de privatização do seu setor de telecomunicações.
Passados quatro anos, crescentes parcelas da população brasileira está
desfrutando da revolução que iniciamos. Os impactos sociais e econômicos
dessas transformações em meu País são cada vez mais visíveis. Naquele ano,
somávamos pouco mais de 22 milhões de telefones fixos instalados. Hoje,
estamos chegando a 50 milhões. O número de telefones móveis subiu de 7 para
30 milhões. E o que é mais importante, as maiores taxas de crescimento do
número de telefones instalados foi nas porções de menor renda da população
e em todas as regiões do extenso território brasileiro.
5. O modelo de regulação adotado pelo Brasil tornou-se, inclusive,
juntamente com outros quatro países, paradigma de referência chancelado pela
UIT. O progresso do setor de telecomunicações não teria ocorrido se não
fosse a determinação do governo brasileiro e a atuação do seu órgão
regulador, a Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL, guardiã dos
princípios da reforma que está suportada nos pilares da competição e da
universalização. Nesse contexto, a ANATEL seguirá com a dinâmica que os
mercados exigem: regras claras, exeqüíveis e não discricionárias.
6. Como prova da confiança no processo iniciado em 1995 e ainda em curso foi
que, nesses últimos quatro anos, os investimentos em telecomunicações
realizados pelos grandes atores do setor chegaram a aproximadamente US$ 50
bilhões. Estamos cientes de que os investimentos devem-se arrefecer. Mas, ainda
temos muito espaço para crescer considerando as taxas relativas de usuários,
28% na telefonia fixa, 18% na telefonia móvel e grande mercado consumidor.
Poucos países no mundo oferecem tantas oportunidades de crescimento como o
Brasil.
7. No entanto, ao final de 2001, 70% da população do globo ainda não
possuía um telefone e muitos mais se encontravam excluídos dos benefícios da
sociedade da informação. Isso, para não falar de outras infraestruturas onde
mais de dois bilhões de pessoas que não têm acesso adequado à água e dos
três milhões de pessoas que a poluição mata por ano. Mesmo assim, a
revolução das comunicações, inacabada, insatisfatória, já veio. Na verdade,
começou faz tempo, quando a televisão passou a cobrir o mundo interligando-o
com chuvas de instantaneidade e quando a Internet teve inicio comercial,
aumentado cada vez mais o acesso das pessoas à informação.
8. É inegável a contribuição que a União Internacional de
Telecomunicações vem prestando à harmonização de ações entre os seus
estados-partes. A UIT constitui-se foro privilegiado de discussões das mais
importantes questões que estão definindo os rumos das tecnologias de
informação e comunicação. Creio que todos os países têm a ganhar com uma
participação efetiva na organização. É por isso que a administração
brasileira defende que a reforma da UIT seja equilibrada e que não olvide os
interesses das nações em menor nível de desenvolvimento.
9. Em dezembro de 2003, Chefes de Estado e de Governo estarão reunidos em
Genebra para a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação. O momento para
debater aspectos relacionados ao tema é bastante auspicioso. Acredito
firmemente que as novas tecnologias de informação podem ajudar a transformar
os cenários de subdesenvolvimento existentes no mundo. As inovações
tecnológicas devem visar sempre o desenvolvimento humano.
10. Por muitas décadas, a habilidade de qualquer organização para
alcançar seus objetivos econômicos dependeu quase que exclusivamente de
capital e trabalho. Hoje depende também dos investimentos em capital humano,
tais como educação e saúde que contribuem para o crescimento econômico e
redução da pobreza. Temos que encontrar solução ao problema dos padrões
insustentáveis de produção e consumo, que, infelizmente, ainda convivem com
níveis de vida desumanos. O novo desenvolvimento que devemos buscar tem que ser
baseado nos valores da justiça, da igualdade e da cooperação.
11. O Governo Brasileiro, conforme pronunciamento do presidente Fernando
Henrique Cardoso, por ocasião da "Rio+10" na África do Sul, defende
que a luta pela sustentabilidade passe pela construção de trocas
internacionais mais eqüitativas, menos excludentes. Passe por uma maior
previsibilidade e estabilidade dos fluxos de capital, pelo maior acesso a
mercados para os países em desenvolvimento. Passe por uma cooperação
internacional fortalecida e pela luta continua contra o protecionismo no mundo
desenvolvido.
12. É notório que o clima de euforia turbinado por uma liquidez sem
precedentes no sistema financeiro mundial, hiperbolizado e internacionalizado,
também graças às tecnologias de informação e comunicação, disparou algo
que pode ser chamado de uma "corrida do ouro" digital. Mudanças de
rumo se fazem necessárias, com grandes reflexos sobre o setor de
telecomunicações. Diante deste cenário, estou convicto de que somente
reforçando nossas participações nos organismos internacionais de
coordenação política e técnica, em especial a UIT, conseguiremos alcançar o
tão almejado desenvolvimento harmônico de nossas nações. Quero concluir
reafirmando minha satisfação por estar aqui hoje. Estou certo de que esse
encontro nos possibilitará ricas trocas de experiências, visões e
informações sobre o setor de comunicações.
Muito obrigado.
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