WTSA-2004
World Telecommunication Standardization Assembly
Florianópolis, Brazil
5 October 2004
Opening Address
Mr Paulo Lustosa,
Executive Secretary
Ministry of Communications of Brazil
Senhoras e senhores,
É com satisfação que participo da abertura dos trabalhos
inaugurais da AMNT-04 nesta cidade de Florianópolis, tão cara a todos nós
brasileiros pela beleza de suas paisagens e a hospitalidade de sua gente. A
presença entre nós do Senhor Governador do Estado, Luiz Henrique da Silveira,
e da Prefeita da capital catarinense, Angela Amin, não só abrilhanta esta
cerimônia como destaca a relevância emblemática que esta Assembléia tem para
o Brasil, para Santa Catarina e para Florianópolis. E aqui estamos realmente
fazendo história, porque esta é a primeira Assembléia Mundial do setor de
telecomunicações a realizar-se no Brasil e, como se sabe, é também a
primeira que tem lugar sob a vigência das novas Constituição e Convenção da
UIT aprovadas na Conferência de Plenipotenciários de Marraquesh, em 2002. É
dupla a responsabilidade que recai sobre nós, que representamos a política de
telecomunicações no Brasil.
A honrosa presença entre nós do Secretário-Geral da UIT,
Yoshio Utsumi, do Secretário-Geral Adjunto, Roberto Blois, do Diretor de
Normalização, Houlin Zhao, do Diretor de Radiocomunicações, Valery Timofeev,
e do Diretor de Desenvolvimento, Hamadoun Touré, sinaliza também que estamos
diante de um evento ímpar nos anais das telecomunicações no Brasil. A União
Internacional das Telecomunicações - UIT, desde sua fundação em 1865, dedica
o melhor de seu esforço a uma das mais nobres tarefas da humanidade, que é a
de pôr os homens em contato entre si. Esse reconhecimento veio no distante ano
de 1947, quando a UIT se viu alçada à condição de agência especializada da
ONU. A lembrança de que a UIT faz parte da família da ONU leva-me a externar
mais uma vez a preocupação do Brasil com a defesa e o fortalecimento do
multilateralismo, que é para o Presidente Lula a contraparte necessária do
convívio democrático no interior das nações. A inabalável fé do Brasil no
sistema multilateral, do qual a UIT é digníssimo representante, me inspira
igualmente a citar meu Presidente, para quem a ONU não foi concebida para
remover os escombros das guerras que não pôde evitar. E me exorta a declarar
que o patrimônio de transparência, responsabilidade e prática democrática da
UIT é acervo precioso a que não se deve renunciar se quiser garantir o
tratamento multilateral que o setor de telecomunicações está a exigir.
As Assembléias Mundiais de Normalização das
Telecomunicações, com sua periodicidade quadrienal, têm por objetivo dotar o
setor da capacidade para fazer face aos novos desafios, que neste meio são a
regra. Com efeito, talvez não haja atividade humana mais dinâmica do que
aquela das telecomunicações. Do telégrafo ao satélite, o espetacular
desenvolvimento das telecomunicações deu a muitos, mas infelizmente não a
todos, a possibilidade de conectar-se com uma rapidez inimaginável em outros
tempos. De certa forma, o mundo inteiro passou a caber dentro de uma rede. O
setor das telecomunicações, como se vê, não é somente muito dinâmico, mas
também e, sobretudo, uma dos maiores responsáveis por esse fenômeno chamado
de globalização. Com efeito, as comunicações, ao transcenderem as
especificidades locais, ao unificarem formas de linguagem e de conexão, tornam
possível um diálogo tão veloz entre os diferentes quadrantes do mundo que as
distâncias que antes nos separavam desapareceram como por encanto.
Essa padronização que permite ao mundo inteiro comunicar-se
não é algo espontâneo, como a fluidez da conectividade atual poderia levar a
pensar. É, antes, fruto também do incansável trabalho da UIT que, por meio de
suas assembléias sobre normalização, define a política geral e estabelece
métodos de trabalho e procedimentos, planejando o desenvolvimento do setor para
os quatro anos seguintes. A Assembléia que estamos inaugurando, além de ser a
primeira a realizar-se no Brasil é a primeira após a aprovação das novas
Convenção e Constituição da UIT, é ainda a primeira a realizar-se num
momento em que se reafirmam definitivamente os processos de convergência
tecnológica de plataformas e serviços e se descortina no horizonte, com a
força das inovações que vieram para ficar, a ubiqüidade como evolução
natural daquela convergência. E tudo isso, num ambiente em que se consolidam os
fundamentos da privatização, hoje muito mais difundida no mundo inteiro do que
quando da realização da última Assembléia Mundial de Normalização das
Telecomunicações, há quatro anos.
Não posso perder a oportunidade de estar aqui diante de tão
seleta platéia formada por delegados de mais de cento e cinqüenta países para
falar rapidamente das telecomunicações no Brasil. Quinto país em superfície
e em população, o Brasil, décima segunda economia do mundo, tem nas
telecomunicações um setor de dimensões extraordinárias, com cerca de
cinqüenta milhões de acessos fixos e cinqüenta e sete milhões de terminais
móveis, o que hoje faz do nosso país o quinto maior mercado de celulares, com
tendência a ocupar a quarta posição até o final de 2005. Grandes passos
foram dados pelo Brasil no sentido da reforma institucional do setor: criou-se
legislação apropriada, fundou-se a agência reguladora, a Anatel, atraiu-se e
atrai-se vultosos investimentos provenientes de capital estrangeiro e nacional e
ainda garante a operadores privados ambiente favorável ao desenvolvimento do
mercado, sem esquecer a necessária proteção dos usuários.
Não obstante o progresso registrado nos últimos anos, ainda
há muito por fazer, pois grande número de brasileiros ainda aguarda serviços
essenciais, e não só na área das telecomunicações, para poderem exercer de
forma completa a sua cidadania. Diante desse quadro, impõe-se a
universalização dos bônus das modernas tecnologias das telecomunicações,
sem limites geográficos, pecuniários, etários, raciais, religiosos ou de
gênero. Acesso universal às comunicações, para o Governo Lula, é o outro
nome da igualdade de oportunidades, elemento sem o qual não se constroem as
bases de uma sociedade verdadeiramente democrática. Assim, acesso universal
não é apenas ingresso ao mundo das telecomunicações. É, sobretudo,
instrumento efetivo de combate à exclusão digital a qual, por não poder ser
derrotada pela lógica do mercado, pois certos investimentos em comunicações
sabidamente não têm retorno em razão da dispersão da população e da má
distribuição da renda, é alvo de políticas específicas definidas e
implementadas por nosso Ministério. O ideal, enfim, que perseguem tais
políticas é que todo brasileiro tenha acesso à informação e ao conhecimento,
a preços razoáveis e num padrão de qualidade adequada e bem definida.
Não poderia, contudo, encerrar estas palavras sem antes
salientar que o mundo muito espera da atuação da UIT e dos trabalhos desta
douta Assembléia. Diante dos saltos tecnológicos cada vez mais ousados a que
assistimos entre absortos e maravilhados, estamos persuadidos de que um dos
papéis da União será o de promover a propagação dos benefícios dessas
conquistas a todos os habitantes da Terra, sem distinção de gênero, credo ou
nacionalidade. Essa é a nosso ver a maior contribuição que a UIT poderá dar
para a construção de um mundo melhor, um mundo enfim em que a revolução
tecnológica legitimará a síntese das metas do progresso, que é o bem estar
de toda humanidade.
Desejo a todos um bom trabalho e uma feliz estada em
Florianópolis, certo de que a fidalguia do povo catarinense em muito
concorrerá para que tudo isso aconteça.
Muito obrigado.
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